E nós, Iago, não somos quem somos

 

Pobrezinha não fazia ideia no que se meterá, mas após alguns anos, e um caos enorme em si, teria um vislumbre: o que tinha diante de si não era um matrimônio; era uma mãe com seu filho, e um filho com sua mãe. Puta merda, odiava a psicanalise com toda aquela baboseira de complexo disso e complexo daquilo, mas pelo visto nesse caso não havia escapatória. Se bem que, talvez, todos os casos que já tivera dissessem o mesmo de si. Que droga!

Sim, aquela babaca de merda era sua mulher, mas antes de tudo era sua mãe, e por mais que ele se deitasse com muitas mulheres, jamais abandonaria sua mãe. Que espécie de filho da puta ele seria se fizesse isso? Ter namoradas e mais namoradas tudo bem. Afinal era homem e tinha suas necessidades, necessidades que mamãe não pode satisfazer. E que ela até entendia, afinal, “elas não significaram nada, não passam de um bando de vadias que ele usava pra se satisfazer e depois descarta. Lixos nada mais, talvez, até menos que isso, mais não.”

Além disso, ele negaria sempre que sua mãezinha indagasse. Procuraria esconder dela sempre, até porque o problema, pensava ele, não é ter namoradas, não é ter casos, é mamãe descobrir, é minha mulher saber. Logo, em sua cabeça, a virtude não estava em se abster, “maldita seja a castidade!”, era seu pensamento motriz, e “que vá pro inferno todos que a defendem! Virtude é a porra do meu saco vazio de todo o caralho!”

A virtude é esconder bem, de tal modo que até ele esquecesse que praticou tal ato algum dia.

“Até porque passar vontade, se posso dar um jeito de satisfaze-la e não ter prejuízo algum com isso, mas apenas o prazer?” pensava ele. O prazer carnal em si. E outro ainda mais duradouro: consegui enganar de novo! 

Enganar é uma prova de capacidade.

 Nenhum campeão olímpico deve ter sentido com seus feitos uma felicidade tão grande quanto a que ele sente quando consegue enganar. E quanto maior o engano, maior o prazer. E enganar duas mulheres ao mesmo tempo era um gozo duplo, um vindo na sequência do outro. E três? E quatro!? E uma família inteira comprando seu partido!? Oh, meu Deus! Sim, sentia prazer em enganar. Em ver seus engodos sendo comprados. Em pôr uma pessoa contra outra tão somente por se fiarem em sua palavra. “Ah, Iago, você se orgulharia de mim”, não somos quem somos, não é mesmo? Seus olhos reluziam ao dizer isso.

Se mamãe mulher descobrisse, brigaria demais, até choraria, tiraria a aliança do dedo e a jogaria no primeiro objeto que visse, aquela caixa de som, por exemplo; está certo que mamãe mulher perdoaria, ela sempre perdoa, perdoa tudo; tudo perdoa, toda santa vez. A maternidade corroborava com isso. E sua formação religiosa também, afinal, “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Ser descoberto tinha outro agravante, dava-lhe a incomoda sensação de ser um “menino mau, mau, mau”, e, ele naturalmente, não gostava nenhum pouco dela, afinal, fora ensinado desde pequeninho que ele era um menino bonzinho, e meninos bonzinhos são bons, inclusive e/ou principalmente em esconder, em achar um bode expiatório, a culpa é delas, a culpa sempre é delas, ah, e nós, Iago, não somos quem somos, sim? 

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