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 PARTE I:  As coisas não iam bem. Sabia que era pobre, assim nascera, e assim, provavelmente, morreria, a semelhança do seu pai, do seu avô e de mais dez chefes de família que o antecederá. Não seria ele a romper o elo, nem pro bem, nem pro mal. Recebera deles a pobreza, não a miséria, tinha, portanto, a obrigação de manter-se no mesmo nível, logo não ter centavos pra dar à filha já estava abaixo de sua dignidade de homem pobre, de descendente de todos aqueles, abaixo do legado que receberá, aquilo lhe ferirá o orgulho, sim, pobres também o tem, alguns até são riquíssimos nesse aspecto. Estariam entre os dez mais da Forbes, se a Forbes levasse esse critério em consideração. Os pobres a quem Jesus legou o reino dos céus, pertenciam a outras famílias de pobres. Não a dele. Que, inclusive aguardava-o ansiosamente no inferno. Assim, mexido em seus brios, e com olhos continuamente molhados pela lembrança do “não tenho” dito a filha, que lhe pedirá dois reais; foi em boa hora que ...
  Tudo a sua volta induzia a loucura. E se não enlouquecia era tão somente porque tinha o hábito de olhar para o alto, de onde sempre vem o socorro. O céu, até quando nublado, é belo.
Vermelho e piscante. "... com que palavras mesmo sua amiga expulsou você da vida dela?" (A natureza da mordida - Carla Madeira) "Some da minha vida", não conseguiu me expulsar da sua vida, pois vi que alguém encostara uma arma a sua cabeça, e te dizia: diga isso, ou eu atiro. E você disse. Você queria continuar vivo, pra poder me ver mais uma vez, e mais outra e outra mais. Só que há palavras, que mesmo quando ditas por obrigação, sem querer, conseguem ferir. Mas é uma feridinha leve. Uma criança que tropeça e cai; a quem basta dizer: foi só um pulo, foi só um pulo, passou, passou. E, pronto, já pode correr outras vez.es E cair outras vezes. Porém há palavras que quando se diz e não se é obrigado a dizê-lo, não há arma apontada à cabeça. Que disse porque quis dizer. Disse exatamente o que queria. Aquela palavra que em aparência nem chega aos pés do "some da minha vida". Fica vermelha e piscante: Saída. E o que podemos faze se não baixar a cabeça e caminhar...
  Kristin (ou Cristina) Lavransdatter e o detestável hábito de soltar pedras   A família de Cristina chega a Joerundgaard, ela tem por volta de seis anos de idade, é a partir daí que acompanhamos sua vida e seu entorno, de modo que Sigrid Undset vai nos mostrando, sem que saibamos, elementos que serão importantes pra história quando essa chegar ao seu ápice; por exemplo, a seriedade da mãe, a doença da irmã, o apago ao pai, a observância da família as festividades religiosas (inclusive os pais se abstêm de relações sexuais durante a Quaresma) e o padrão moral da época. Nisso transcorre cerca de 20% da narrativa.             Após isso chegamos a uma Cristina adolescente (16 anos de idade) encontrando-se com Arne, por solicitação dele, para que pudesse falar-lhe antes que ele saísse de Joerundgaard. Ela vai até ele na condição de amiga, apesar de pertencerem a classes sociais diferentes. Ele fala a ela como um homem in...
 Nota: esses parágrafos fazem parte de um texto maior, mas achei esse trecho tão bonito, de uma pessoa em depressão profunda, começando a fazer algo pequeno, após ter tido um sonho muito vivido, que resolvi publicar aqui, e, quando tiver concluído a novela que ele faz parte, apaga-lo.                 Tu senhor manténs acesa a minha lâmpada; o meu Deus transforma em luz as minhas trevas.                                                                                                                               (Salmo 18, 28) Joshua acordou e seus olhos fixaram-se em um feixe de luz a entrar pela cortina da janela,...
                                                             Um pequeno conto mínimo  Vê-lo suscitava nela a felicidade de um cachorro que há um tempo não tem diante de si o dono. Tivesse ela rabo, o abanaria, mas na ausência desse, fazia-lhe as vezes o coração, que em poucos segundos chegava a uma aceleração de 175 batimentos por minuto.
  Seu negro amor secreto/Dedica-se ao teu fim.   Um rapaz bom e sábio dedicava o primeiro momento do seu dia a passear em seu jardim, em um deles percebeu uma flor que florescia apenas de vinte em vinte anos, e não vivia mais que dois dias, contemplou-lhe tanto que até esqueceu de ser atencioso com as demais flores; apenas a luz do luar foi capaz de remove-lo do estado contemplativo em que se encontrava. O bom jovem revirou-se na cama durante toda a noite, e não via a hora de surgir no horizonte os raios de sol, para novamente poder contemplar a bela flor. Quando eles surgiram, imediatamente dirigiu-se ao seu jardim. Não havia em seus olhos espaço para as lágrimas que se formaram ao ver que a a bela flor lá não estava. Havia sido carregado por um vento mal, a pedido das flores enciumadas da atenção que o homem bom havia dado a ela. Seu pranto foi tão, que a terra em que a flor outrora esteve ficou dele compadecida, e entregou a ele uma semente: - Bom homem, ao ser le...